
*Tela
Siesta,
de Vicent Van Gogh*
A PÁ, A FOICE E A ENXADA
Ligi@Tomarchio®
De repente, percebo a existência de objetos a minha frente. Não
que sejam estranhos, mas de onde surgiram? São três: a pá, a foice e a enxada.
Materializados... Vivos... Surgindo na retina dos meus olhos, como seres
extraterrestres...
Sinto algo revirar meu estômago. A náusea reluta em me deixar.
E os três objetos à minha frente... Parados e concretos, dizem alguma coisa.
Parecem vivos... Chamam-me insistentes e arrogantes.
Olhando em volta, reparo que o lugar também é diferente. Nunca havia estado
antes aqui... Uma imensidão de terra vermelha envolve, até onde meus olhos
alcançam. Um horizonte avermelhado faz composição com um céu crepuscular. O
brilho do metal dos instrumentos é ímpar.
Continuo a observá-los. Sei que jamais verei tal cenário até morrer. Fotografo e
guardo no arquivo da memória todas imagens possíveis. E são tantas...
Tento me mover e nada. Meus pés estão fincados no solo como raízes
pré-históricas. Meu corpo está enrijecido, feito rocha. Apenas meus olhos e
pensamentos conseguem movimento.
O que estou fazendo neste lugar? E estes três objetos, por que olham para mim?
Não entendo o incomodo que me causam a pá, a foice e a enxada... Poderia estar
apenas olhando através de uma janela toda essa paisagem. Mas não. Faço parte
integrante dela.
Eu sou a pá, a foice e a enxada. Assim como a terra vermelha e o crepúsculo. Sou
o trabalho duro dos personagens de nossa história. Represento o suor de cada um
na construção desse país.
Sou esperança. Sou futuro e passado.

Música: Sweet Symphony, by The Verve

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Ligi@Tomarchio®
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