Túlio Roveda Durlo

Minha cidade natal é Pitangueiras - SP. (1917 -  Outubro)
Com ano e meio de idade, mudamos para uma fazenda em Jardinópolis.
A casa do fiscal da fazenda onde morávamos  tinha anexo uma grande sala... o Grupo Escolar.
A uns duzentos metros de nossa casa, havia uma Estação da Mogiana - chamava-se "Visconde Parnayba". Aos meus 5 anos de idade eu tinha na classe meu lugar efetivo ao lado de um colega. Eu tinha meu livro, (Coração de Criança), meus cadernos, lápis, borracha, régua, minha caneta pena-tinta, minha bolsa tipo "bauzinho" .
Tudo o que os outros tinham eu precisava ter também, nada importando ser eu uma criança, ainda sem idade escolar. Ninguém se encontrava como eu, na escola e em casa. Traziam todos seu rico lanche para a hora do recreio - eu então, não deixava por menos... havia de estar presente com meu lanche. Diante disso, minha mãe supria-me do melhor que havia em casa. Todos gostavam presentear a professora com o melhor do lanche... uma fruta... uma geléia... um doce. Havia muita alegria... muita barganha de quitutes.
Ali era minha casa, minha escola e meu mundo! A esse tempo, íamos à escola em busca de sabedoria e não em busca de comida. Lembro-me hoje, com uma quase mortal saudade, o nome de minha tão querida professora - Dona ELVIRA.
Lembro-me também que, em razão de minha pouca idade, havia entre ela e minha mãe um tipo de convênio para que, durante a visita do Inspetor à escola, eu não me encontrasse em aula.
Em julho de 1925 (eu tinha 7 anos), mudamos da Mogiana para a Araraquarense, numa grande fazenda no município de "Inácio Uchoa", hoje UCHOA. Ali havia Grupo Escolar, mas como já tivesse escolaridade a contento, parti para o trabalho. Aos 8 anos de idade eu ganhava dois mil réis por dia, puxando mula com grade na secagem de café no enorme terreiro da fazenda. Quando completei 11 anos, novamente fui à escola, matriculando-me no primeiro ano; porém, depois de 2 semanas a professora dizia-me que eu era, agora, aluno do segundo ano. Seis meses mais tarde, devido ao serviço que na roça se acumulava, deixei a escola.
Nunca vi em minhas mãos o tão ambicionado "canudo" de papel. ( ! ) Quero aqui lembrar, também com imensa saudade, minha tão querida Professora Dona HERMÍNIA.
Em 1935, com 18 anos de idade, freqüentei por poucos meses escola noturna particular (a professora era a mesma que lecionava no Grupo Escolar da fazenda onde estudavam uma irmã e um irmão meus). Com saudade sem fim, lembro Dona DIVA DE OLIVEIRA ARRUDA.
Freqüentava minha última escola quando fui procurado por um parente para trabalhar como balconista em sua empresa em Vila Poloni - hoje, Poloni. Em 1936 fui Congregado Mariano, e como hoje, acreditava menos em mim, para acreditar mais em Deus. Três anos mais tarde retorno a minha casa. Em 1942... o meu casamento. Venho então para S.J.do Rio Preto onde até hoje nos encontramos.

Túlio Roveda Durlo
Abril - 2005


Propósito Oculto


Sem pedir e sem querer...
Sem pensar e sem saber, cheguei a este mundo!
Conheci então o mal que ensejou-me a busca do bem.
Foi em razão do errado que busquei o certo.
Foi envolto em trevas que busquei a luz.
Foi a mentira que me deu a "dica" e encontrei a verdade.
Foi a tristeza que eu vi, passando-me a senha da alegria.
Foi entre ramos de espinhos que encontrei flores que
tanto eu queria!
Segui caminhos barrentos pela visão de um orquidário.
Busquei o Céu na terra... encontrei a terra no Céu!
Odiei o ódio para amar o amor.
Busquei no ínfimo o significativo... o importante.
Busquei, em minha vida, minha alma; e encontrei
a mesma coisa!
Foi buscando "nada" que encontrei tudo!
Descobri assim o que sou.
Busquei, no rude chão pétrico,
a vertente cristalina que Deus guardou.
Busquei em Judas Iscariotes o Cristo que Deus me deu.
Descobri, então, que sou filho do eterno TEMPO
que, dispondo do "nada", tudo criou!

 

Terra... A grande Mãe

Quero esta terra a grande mãe...
mãe de todas as mães!
Quero esta terra,
de cujas entranhas originaram
os viventes - ela que guarda em
seu seio nossos entes queridos.
Quero esta terra,
onde o homem quando entender,
deixará de supor tão distante o Céu,
e não mais pensará que daqui se vão
os que jamais irão a outro lugar.
Quero esta terra
onde o homem será para sempre,
o legítimo representante terrícola
para todo o universo!
Quero esta terra,
onde hão de encontrar-se
os que aniquilaram seu ódio... e amam!
Quero esta terra em seu
"berço" de origem,
onde os enganados um dia despertarão.
Quero esta terra
envolta neste Céu profundo,
a dividir com o mar
toda beleza que há no mundo!
Quero esta terra,
onde haverão de rir
os que aprenderam chorar, e onde viverão
os que souberam morrer.
Quero esta terra
um orquidário... um reino!
Um jardim não temerário
onde viverão indefinidamente,
os que não perderam o DIREITO
de existir e viver !

 

O Último Pássaro

Naquela cidade sem rua,
dois caminhos se cruzam
na praça deserta e nua

Nem uma árvore...
Nem o último pássaro ali !
Nem uma cigarra solitária,
nem formiga... nem colibri !

De longe vem o sol e se vai...
A noite é dúvida e a lua uma mentira.
Já não piscam abastecidos,
vaga-lumes em horas sombrias.
O horizonte é mudo e deserto!

Zumbe os confins!
Só o silêncio é notório e tão perto!
Quero nunca mais tornar
aos lugares onde vivi!

 

*Conheça mais poemas de Túlio:

Natal  Contrastes  Esperança

trdurlo@yahoo.com.br

 

Música: África, de Enya

 

 

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