VIADUTOS

Não tenho
nada a guardar do meu gesto, no mais íntimo do meu
universo.
E nem certo seria se tudo solucionar-se-ia.
Nada mais que o simples perdão,
No momento mais pleno da concepção,
Guardado a todo momento do terreno e do sofrimento.
Calar o último olhar porque nada se tem a lembrar.
Nada a perder ou ganhar no meu e no seu olhar.
Voltar ao tempo, como sem desejos,
Somente ter um pouco que sentir para depois se ter o que
recordar.
Não quero me bastar, nem chegar ao infinito de meu ser.
Basta somente ter o caminho, ver a luz que brilha sem
luar.
De minha memória, não sei o que vai eclodir, o que vai
dar...
Pleno sentimento que era e que foi, nada de novo em mim,
do seu olhar,
Que cala meu pranto e esconde o meu perdão.
Quero sonhar no fundo do mundo, cantar enfim, meu último
sinal...
Como uma ponte, que não sei onde vai findar ou chegar.
Guardar esse momento de comunhão,
Doce belo e bem desigual, que conduz minha paixão.
Nada mais a sentir no vazio,
Ou rodar no espaço a procura de um ninho.
Soluçar plenamente a cada segundo, cheirando o mato
dessa imensidão.
Quero guardar o teu gesto no meu desejo,
Planificar de arcanjos o teu oráculo.
Salvar a lira dos meus sonhos para não matar minha
ilusão.
Tocar o mais íntimo desse meu universo.
Arrancar a demência que ameaça a chegar.
Não parar, apenas cessar.
Nem tampouco me desatinar...
Apenas cortar o vácuo que separa minha linguagem.
Tirar teu prato do armário e saciar de encanto teu
olhar.
Não quero lembrar tua memória, muito menos anular ou
apagar tua discórdia.
Basta apenas lembrar um minuto.
Basta apenas esperar a consolidação do mito.
Não quero recordar o que vivi, como bálsamo que não fui.
Saberei apenas do que não se foi e ainda está e quer
vir.
Não quero guardar, nem segredar o meu universo,
No mais íntimo do gesto,
ou nas entrelinhas dos meus versos.
Pois dele, eu mesma nem sei,
se posso pelo menos recordar...
Luciana Souza
1984 - VR- RJ

Música: Angel, by
Era

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