UM BANCO DE JARDIM

O "Tio Paulo", como em todos os dias que o tempo lhe
permitia, encontrava-se sentado no seu habitual banco de
jardim, a ler o jornal...
"Óh homenzinho, chegue-se um pouco para lá, para eu me
poder sentar...".
O "Tio Paulo", muito surpreendido, olhou para uma jovem
que estava na sua frente e pretendia partilhar consigo
aquele banco de jardim.
"É para já, menina... menina quê...?".
"O meu nome é Antonieta" - respondeu-lhe a jovem
desembaraçadamente, e continuou:
"olhe lá homenzinho, você por acaso não sabe de ninguém
que precise de uma empregada?..."
O "Tio Paulo" voltou a encarar aquela jovem de modos e
de expressões descontraídas. Já meio divertido,
respondeu-lhe: "Olhe lá menina, ou não sou nenhum
homenzinho - ouviu?..."
-Áh não?!... pois olhe que eu estava convencida que
era!...".
Pelos vistos, a resposta fácil estava sempre na ponta da
língua da jovem!
"O meu nome é Paulo, mas também me chamam "tio"..."
"E ele a dar-lhe ! olhe, se você é "tio" eu não sou sua
sobrinha - ouviu ?!...".
Pela máscara facial, Antonieta notou que o velhote não
tinha ficado nada agradado por aquilo que ela lhe tinha
dito. Para suavizar a situação, a jovem perguntou ao
"tio Paulo":
"Senhor Paulo, quer comer da minha merenda?... é
chouriço e queijo que me mandaram lá da minha terra, no Minho...".
"Muito obrigado, menina Antonieta. Que lhe faça bom
proveito !".
E já mais bem disposto, o "Tio Paulo" continuou: "A
propósito, a Antonieta não tem emprego ?"
A jovem encarou o bondoso velhote e, com tristeza
respondeu-lhe: " Presentemente não. Vim do Minho para
trabalhar numa casa, mas o patrão era muito abusador.
Mais parecia um polvo do que um homem. Chateei-me e
dei-lhe uma "toutiçada" na cabeça e com uma mocada,
deitei-lhe uma asa abaixo. Resultado, fui despedida...".
O "Tio Paulo" começou também a viver o drama da jovem.
"Olhe lá, Antonieta, então você não tem casa onde ficar
enquanto não conseguir arranjar outro emprego ?...".
"Pois não tenho. Esta noite terei que ficar a dormir
neste banco" - disse-lhe a jovem.
O ancião olhou para ela horrorizado, e avisou-a: "Tenha
juízo, menina, pois é muito perigoso ficar aqui sozinha
de noite !...".
"Eu não tenho medo e além disso, sei defender-me !" -
atalhou logo a jovem.
Mas o "Tio Paulo" não se deu por vencido e continuou: "
Antonieta, eu moro sozinho, sou viúvo e os meus filhos
estão casados e não moram cá. Se quiser podia ir viver
para minha casa...".
Não pode terminar a frase, pois logo a jovem
retorquiu-lhe: "Mas você pensa que eu queria ir viver
para sua casa ?!... você deve estar a pensar que eu sou...".
Ao ouvir isto, o bom velhote "atirou-se" ao ar...
"Olhe, que eu não estou a pensar em ser um "polvo" como
você diz que era o seu antigo patrão. Ofereço-lhe a
minha casa, em troca de... de, por exemplo, de você
arrumar a minha casa e de passar-me a roupa a ferro -
valeu ?!...".
A jovem hesitou, mas por fim acedeu ao amável convite do
bom velhote: "Está bem, aceito. Mas o "Tio Paulo" terá
de tomar banho todos os dias, pois esses pés...(que
cheiro!...) e tem de deixar andar agarrado a essa
bengala..."
E lá foram os dois. Curiosamente, o "Tio Paulo" já não
se apoiou na bengala para poder andar...
http://www.caestamosnos.org/
http://www.caestamosnos.org/carlosleiteribeiro/

Portugal

Música: Canção do
mar

Voltar
Menu
Art by
Ligi@Tomarchio®
|