Viajante

Viaja a alma partida
numa fuga destemida
afastando-se, por certo,
das lembranças de sua vida.
Viaja nas sombras da noite
ou nas asas de um novo dia,
rumo a futuros afetos,
sopros da melancolia.
Viaja sem rumo,
sem nexo,
sem hora marcada,
sem rota determinada.
Com passagem só de ida
sangrando na bagagem a ferida,
na velocidade do medo
mas no compasso da vida
Viaja na transparência
de sua doce demência
sem clemência carrega a dor
da falta de seu amor.
Espelho meu

A vida me fez uma
proposta
mas eu estava indisposta
cuidando de minhas dores
de meus falsos amores
e não lhe dei atenção
Só observei o tempo
ao perceber que o destino
tinha me pregado outra peça
e sem pressa me olhei no espelho
e nele refletia um coração em desatino
a vida passa rápida como um suspiro
as dores que insisti
em carregar comigo
deixaram no caminho
o amor que juramos
levar para a eternidade
o amor passa sem que notemos
e novamente o espelho
vem nos mostrar
que não há como voltar
De que adiantaria saber
se você ainda me espera como prometeu?
De que valeria sonhar?
meus sonhos já não são seus!
O espelho insiste em mostrar
as marcas do passado
emoldurado e pendurado
para sempre na mocidade
Hoje olho o jardim
como se ali houvesse enterrada
uma semente de mim
Cuido para que o milagre aconteça
e que o espelho a reconheça
quando desabrochar enfim.
Como presa de um lobo

Como um lobo
faminto
devoras meu coração e o despedaças,
partindo á procura de outra caça
sem lamentar o que sinto.
E, o que sinto é a minha desgraça.
Ao aceitar tuas andanças
sangro meu coração,
permitindo contra mim a vingança
de amá-lo, sem esperanças,
numa dança doentia de paixão.
Segue o tempo,
eu já enfraquecida,
retorna o lobo à minha morada
em meu colo o acolho agradecida,
e ainda mais apaixonada.
Mas como fosse destino marcado
o lobo está triste e cansado,
e num beijo demorado
tatua nos lábios meus
a marca do seu adeus.
Se o lobo foi pecador,
nas dores que me causou,
sei também que me amou,
como lhe foi possível amar.
Se a espera foi minha sina,
ainda a cumpro nas noites que a lua ilumina
Seu uivar ecoa em minha insanidade,
como anunciando suas vontades,
e como fosse eu sua presa.
Quando enfim sua ausência me invade,
deixando meu corpo inerte,
indefesa agonizo ante a saudade,
transformando em lenda minha verdade.
http://www.crlemberg.com/poeta/beatriz/beatriz.htm

Música:
Quelqu'un ma dit, by Carla Bruni

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