

"Eu escrevo sem esperança de que o
que eu escrevo altere qualquer coisa.
Não altera em nada... Porque no fundo
a gente não está querendo alterar as coisas.
A gente está querendo desabrochar de um
modo ou de outro..."
Clarice Lispector
BREVE
BIOGRAFIA
Clarice Lispector nasceu em Tchetchenillk - Ucrânia, no dia 10
de dezembro de 1925. Os Lispector emigraram da Rússia para o
Brasil no ano seguinte, tendo parado na Ucrânia somente para ter
a filha Clarice, que nunca mais voltaria à pequena aldeia em que
nascera. Fixaram-se em Recife, onde a escritora passou a
infância. Órfã de mãe aos 12 anos mudou-se com a família para o
Rio de Janeiro. Começou a escrever contos logo que foi
alfabetizada. Entre muitas leituras, ingressou no curso de
direito, formou-se e começou a colaborar em jornais cariocas.
Casou-se com um colega de faculdade em 1943. No ano seguinte
publicava sua primeira obra: Perto do coração selvagem, iniciado
cerca de dois anos antes. A moça de 19 anos assistiu à
perplexidade nos leitores e na crítica e a repercussão de um
estilo "muito diferente" para a época. Seguindo o marido,
diplomata de carreira, viveu fora do Brasil por quinze anos,
onde se dedicava exclusivamente a escrever. Separada do marido e
de volta ao Brasil, passou a morar no Rio de Janeiro. Em
novembro de 1977 soube que sofria de câncer generalizado. No mês
seguinte, na véspera de seu aniversário, morria em plena
atividade literária e gozando do prestígio de ser uma das mais
importantes vozes da literatura brasileira.

OBRAS:
Perto do coração selvagem - romance - 1944
O Lustre - romance - 1944
A cidade sitiada - romance - 1949
Alguns Contos - 1952
Laços de família - contos - 1960
A maçã no escuro - romance - 1961
A legião estrangeira - contos e crônicas - 1964
A paixão segundo GH - romance - 1964
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres - romance - 1969
Felicidade clandestina - contos - 1971
A imitação da rosa - contos - 1973
Água viva - ficção - 1973
A via-crucis do corpo - contos - 1974
Onde estivestes de noite - contos - 1974
De corpo inteiro - entrevistas - 1975
Visão do esplendor - crônicas - 1975
A hora da estrela - romance - 1977
Para não esquecer - crônicas - 1978
Um sopro de vida - 'pulsações' - 1978
A bela e a fera - contos - 1979
A descoberta do mundo - crônicas - 1984
LIVROS INFANTIS
O mistério do coelhinho pensante, 1967
A mulher que matou os peixes, 1969
A vida íntima de Laura, 1974
Quase de verdade, 1978
Como nasceram as estrelas, 1984

POEMAS:
A
PERFEIÇÃO
Clarice Lispector
O que me tranqüiliza
é que tudo o que existe,
existe com uma precisão absoluta.
O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete
não transborda nem uma fração de milímetro
além do tamanho de uma cabeça de alfinete.
Tudo o que existe é de uma grande exatidão.
Pena é que a maior parte do que existe
com essa exatidão
nos é tecnicamente invisível.
O bom é que a verdade chega a nós
como um sentido secreto das coisas.
Nós terminamos adivinhando, confusos,
a perfeição.

A LUCIDEZ PERIGOSA
Clarice Lispector
Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.
Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.
Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.
Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve
para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

QUERO ESCREVER O BORRÃO VERMELHO DE SANGUE
Clarice Lispector
Quero escrever o borrão vermelho de sangue
com as gotas e coágulos pingando
de dentro para dentro.
Quero escrever amarelo-ouro
com raios de translucidez.
Que não me entendam
pouco-se-me-dá.
Nada tenho a perder.
Jogo tudo na violência
que sempre me povoou,
o grito áspero e agudo e prolongado,
o grito que eu,
por falso respeito humano,
não dei.
Mas aqui vai o meu berro
me rasgando as profundas entranhas
de onde brota o estertor ambicionado.
Quero abarcar o mundo
com o terremoto causado pelo grito.
O clímax de minha vida será a morte.
Quero escrever noções
sem o uso abusivo da palavra.
Só me resta ficar nua:
nada tenho mais a perder.

*Para
maiores informações, consultem os links:
http://www.releituras.com/clispector_bio.asp

Música: Gladi
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